Por Sofia Rodrigues do Nascimento*
A democracia precisa urgentemente de mais mulheres na política. Essa afirmação reflete a necessidade de representatividade feminina para a construção de uma política verdadeiramente democrática, que afirme a diversidade em busca de equilíbrio nas decisões, pluralidade de pensamentos, combate à discriminação e soluções econômicas e sociais.
A história nos mostra que as estruturas patriarcais enraizaram a ideia de que o espaço político é um local natural de homens, assim como o mercado de trabalho. Quebrar esses preceitos faz parte da luta feminina e uma de suas maiores conquistas foi o direito de votar, constituído em 1932, ou seja, há somente 92 anos, a partir da implantação do Código Eleitoral Brasileiro.
Apesar de as mulheres representarem mais da metade da população brasileira, ou seja, 51,5%, conforme o Censo Demográfico de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a sua participação na política ainda é pequena e reflete o domínio da cultura machista. Aliás, de acordo com a União Interparlamentar, responsável pela análise dos parlamentos no mundo, o Brasil está na 142º posição referente a participação das mulheres na política nacional, em comparação a 190 países. No Senado Federal, por exemplo, a presença feminina representa 12,4% e na Câmara dos Deputados, 15%.
Para fazer um recorte na supremacia dos homens, em 2020, apenas 12,2% das mulheres candidatas foram eleitas prefeitas, enquanto, 87,7% dos homens candidatos foram eleitos. Os dados do Tribunal Superior Eleitoral evidenciam que não existe igualdade de gênero na participação das decisões políticas.
Nossa união
O que nos une e nos faz caminhar em direção à ocupação de espaços políticos são as nossas lutas, muitas vezes enfrentadas sozinhas e diariamente. É nessa perspectiva que devemos votar em mulheres para conquistarmos direitos reais e soluções eficientes.
O feminicídio, por exemplo, é um dos desafios que transcende a questão social por ser também cultural. A cada 6 horas uma mulher é morta no Brasil. Em 2022, 1.437 mulheres foram assassinadas. Esse número aumenta ano a ano. Em comparação com 2021, por exemplo, o aumento foi de 6,1%, segundo dados do Anuário da Segurança Pública de 2023.
As violências estudadas são feminicídio, ataque psicológico, assédio sexual, estupros, ameaças e stalking, que é um tipo de perseguição. E pasmem, foi somente em 2021 que matar uma mulher deixou de ser um crime de legítima defesa contra a honra masculina, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Outro absurdo é que somente em 2015 o feminicídio passou a ser considerado homicídio qualificado e um crime hediondo, com pena prevista de 12 a 30 anos de prisão.
Sem medo
O medo não pode nos parar, aliás, deve ser o combustível para a coragem de encararmos os desafios e aumentar a nossa representatividade na política. Precisamos de mais mulheres desenvolvendo políticas públicas para mulheres.
Unidas, podemos transformar a nossa sociedade em um lugar seguro, e que atenda as reais necessidades femininas, como a igualdade salarial, acesso à saúde, planejamento familiar, atendimento eficiente em programas de combate à violência etc.
As mulheres também são colocadas à margem do mercado de trabalho. A taxa de participação é menor em comparação aos homens por ser considerada uma força de trabalho secundária. Dados do IBGE mostram que no 1º trimestre do ano passado 53,7% das mulheres estavam desocupadas.
No geral, somos subjugadas aos afazeres domésticos, discriminadas, enfrentamos dificuldades no acesso à educação, à capacitação e estamos em trabalhos ganhando menos que os homens, mesmo realizando as mesmas tarefas.
Este panorama sobre os enfrentamentos femininos mostra que temos muitos obstáculos, mas também evidência que a empatia feminina, o apoio entre as mulheres, é a solução mais genuína para nos levar ao empoderamento político-social.
Estamos juntos nessa luta.
* Sofia Rodrigues do Nascimento é presidente do Sinsaúde Campinas e Região