Depois de um período turbulento, no qual o governo federal se notabilizou pela negação da pandemia e falta de políticas públicas claras de combate, incluindo um programa eficiente de vacinação da população, temos que os trabalhadores mais exigidos na batalha contra a Covid-19, os profissionais de enfermagem, ainda padecem de redução salarial.
Uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos (Dieese) mostra que o rendimento médio dos profissionais da categoria teve redução de 11,8% durante o período que corresponde ao 4º trimestre de 2019 e de 2020. Neste mesmo intervalo de tempo, o rendimento médio real no Brasil encolheu 1%.
É um absurdo, mas a situação pode piorar e a redução salarial é ainda maior quando analisamos os níveis de escolaridade da categoria da saúde. Em comparação com o rendimento médio dos trabalhadores com ensino superior em geral, os profissionais de nível médio de Enfermagem receberam 36,4% menos, enquanto os profissionais de Enfermagem, para os quais há exigência de ensino superior completo, passaram a receber 11,5% a menos.
O Dieese também constatou que no 4º trimestre de 2019 os trabalhadores Enfermeiros com nível superior recebiam 66,4% a mais do que os profissionais da enfermagem para os quais era requerido apenas o nível médio. Mas também os salários dos profissionais com nível superior despencaram no 4º trimestre de 2020, fazendo com que a diferença entre as duas categorias caísse para 39,3%.
Ainda de acordo com a pesquisa Dieese, os profissionais de nível médio que integram a Enfermagem e possuem ensino médio completo recebem, em média, 11,1% a menos do que os demais trabalhadores brasileiros e, mesmo durante a pandemia, o rendimento ficou estável na faixa de R$ 2.250,00.
Os profissionais da Enfermagem lutam há décadas por valorização salarial. A categoria é carente de um Piso Salarial condizente com a responsabilidade da função e enfrentam uma dura realidade de duplas jornadas para conseguirem um rendimento mensal justo.
Segundo a pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil (Cofen/Fiocruz), em 2016, 70% dos profissionais da Enfermagem recebiam menos de 3 mil reais. Deste percentual, mais de 280 mil profissionais recebem menos do que um salário mínimo.
É por isso que temos pouco a comemorar. Os profissionais da saúde, que tanto foram aplaudidos pela população, vivem uma situação trabalhista caótica, o que foi novamente observado nas campanhas salariais dos Sindicatos filiados que aconteceram no primeiro semestre de 2021. E não por falta de empenho dos sindicalistas.
Os administradores hospitalares tanto da rede particular quanto filantrópica não se sensibilizaram com o esforço e dedicação dos trabalhadores da saúde. Esquecem que a doença já atingiu 57.975 profissionais e 857 mortos, conforme dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Os números reais são bem maiores, pois os registros refletem apenas o setor de enfermagem.
Negativa de acatar reivindicações mínimas para garantir melhores salários e condições de trabalho tornaram difíceis as negociações no setor da saúde. Os melhores resultados garantiram aos trabalhadores a reposição da inflação anual, sem concessão de um justo aumento real ou o direito ao adicional de insalubridade em grau máximo, reivindicados pelos trabalhadores.
E é claro que esta é uma situação que influi na qualidade de atendimento aos pacientes, já que alguns setores registram êxodo de profissionais da saúde para outros setores ou para outros países que oferecem melhores condições.
Esses são resultados alarmantes para o setor de Saúde brasileira pois aumenta as diferenças salariais gritantes já existentes entre as diversas categorias de trabalhadores do setor como médicos, enfermeiros e outros profissionais de nível superior até os de nível médio ou abaixo dele, mantendo assim um dos mais cruéis desníveis salariais no Brasil.
Portanto, se quisermos manter nossos profissionais e termos uma saúde de qualidade é necessário mais que aplausos, que a população exija mais reconhecimento a esses profissionais da saúde, os empresários e administradores do setor, mais sensibilidade a situação da categoria.
* Edison Laércio de Oliveira é presidente da Federação Paulista da Saúde e diretor de saúde da UGT (União Geral dos Trabalhadores)