É impossível não falar neste editorial dos acontecimentos que marcaram o Brasil no mês de junho. ; foram centenas de manifestações por todo o País, algo que não era visto há mais de 20 anos, desde o pedido de Impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, sem esquecer outro momento memorável pelas Diretas Já, em 1983.
Agora o povo brasileiro chama a atenção da imprensa nacional e internacional pela sua luta por um País mais digno, com direito a saúde, educação e transporte de qualidade. Infelizmente, o que era para ser um movimento pacífico tomou outras dimensões em virtude de um grupo pequeno que acabou manchando aquilo que é raro de se ver com tamanha dimensão em nossas ruas, a busca pelos seus direitos e a liberdade de manifestação.
O Sinsaúde é favorável ao direito dos brasileiros de protestarem, mas que isto seja feito com civilidade, sem violência para que o movimento ganhe legitimidade e força. É tão comovente quando vemos atitudes de respeito diante das reivindicações. Em nossa região, por exemplo, atos inusitados como o dos manifestantes de Limeira, que foram até a Câmara Municipal da cidade e dialogaram com os vereadores, numa conversa onde todos permaneceram sentados no chão. E até o juramento que um grupo de Araras fez antes de começar o protesto para não utilizar de violência.
Quando o movimento é pacífico, a sociedade vê com outros olhos. Os trabalhadores da saúde sabem muito bem o que é isto. Por dois anos, profissionais da saúde de 31 cidades do Estado de São Paulo participaram de passeatas para fazer com que a sociedade refletisse sobre a atual situação do sistema de saúde e do tratamento dado aos profissionais desta categoria. Eles saíram às ruas para reivindicar condições de salário e trabalho mais justos, redução de jornada de trabalho, entre outras melhorias que contribuíssem para dar qualidade ao atendimento à população. O movimento, que foi promovido pela Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo e do qual o Sinsaúde participou, teve grande repercussão na imprensa, mas de forma positiva.
O povo foi para as ruas para reclamar o mesmo que nós, respeito e qualidade em saúde. Vivemos em uma democracia em que a liberdade de expressão é garantida na Constituição, mas tem que ser pacífica; caso contrário, perde-se toda e qualquer legitimidade.
Que realmente tenha renascido no povo a vontade de lutar por melhorias em nosso País. E que esta luta resulte em frutos positivos para nós e as próximas gerações.
Edison Laércio de Oliveira, presidente do Sinsaúde