O trabalho é elemento fundamental no desenvolvimento do ser humano, devendo ser visto como fonte de satisfação. Segundo Dejours, a satisfação no trabalho divide-se em "concreta" e "simbólica", sendo que a CONCRETA diz respeito à proteção da vida, do bem estar físico e mental, ou seja, a saúde do corpo analisado em termos psicossomáticos, e a SIMBÓLICA trata da vivência qualitativa da tarefa, significação do trabalho, necessidade dos desejos e motivações, dependendo do que a tarefa veicula do ponto-de-vista simbólico.
Dentro do trabalho realizado no SINSAUDE DE CAMPINAS, para a implantação da Portaria 1748/2011 do Ministério do Trabalho e Emprego, houve a preocupação de unir todos esses fatores para que o Programa de Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfurocortantes – PPRA – MAPE fosse levado a êxito, com a participação de toda a equipe de atendimento Odontológico DO SINSAUDE DE CAMPINAS.
A principal premissa utilizada nesse trabalho pioneiro foi desenvolver uma analise criteriosa das atividades desenvolvidas no âmbito geral, bem como a interpelação dessas atividades com os possíveis riscos apresentados não só com instrumentais, mas também com materiais e insumos utilizados no dia-a-dia. Esse é o ponto alto da Portaria 1748/2011, não substituir apenas por substituir, mas sim substituir pela necessidade existente, após a analise do trabalho em seu ambiente de desenvolvimento aliado ás possibilidades técnico - cientificas e disponibilidades existentes em termos de materiais e instrumentais com dispositivo de segurança sempre que se tratar de um perfurocortante.
Toda a estrutura de atendimento odontológico está pautada na Legislação vigente, sendo que a Equipe responsável já adota procedimentos padronizados, diminuindo assim procedimentos arriscados que não estejam pautados em normas e procedimentos corretos de Biossegurança.
Um dos pontos muito positivos que foi implantado já há algum tempo, foi a Lavadora Ultra-sônica para os instrumentais, o que reduz muito o manuseio de perfurocortantes, reduzindo também o risco de exposição dos profissionais que realizam a tarefa.
Mais um ponto de destaque é a Central de Material que fica isolada dos consultórios odontológicos, concentrando os procedimentos de processamento dos instrumentais em um só local, e também dispõe de recipiente para descarte de materiais perfurocortantes caso seja necessário, uma vez que cada consultório odontológico já possui seu próprio recipiente, implantado por ação desenvolvida durante o trabalho de analise dos riscos de exposição.
Destaque também para a estrutura de atendimento onde as cirurgias são previamente agendadas para determinado dia da semana, possibilitando o arranjo adequado do consultório odontológico, bem como a preparação dos materiais, instrumentais e do próprio profissional para que tenha o planejamento de todos os Equipamentos de Proteção Individual que irão adotar para esse atendimento, porque nas práticas diárias já são rotina as normas de Biossegurança.
Na analise de possibilidade de exposição ao risco da Equipe de trabalho como um todo, foi considerado o que já é sabido através de literatura técnica - cientifica, que apenas uma exposição pode ser suficiente para a transmissão de patógenos, e que o risco é multiplicado pelo número de exposições repetidas, que no caso da Odontologia ocorre inúmeras vezes dentro do mesmo dia ou ainda dentro do mesmo atendimento.
Acompanhando as condições estabelecidas dentro do texto legal da NR 32, da qual a Portaria 1748/2011 é parte integrante, foram definidas as ações necessárias quando da ocorrência de acidente de trabalho com material perfurocortante ou exposição a secreções e outros fluidos corpóreos, visto que essa ação também é fundamental na prática assistencial em consultórios odontológicos.
Finalizando, a Equipe está escrevendo um Manual de Procedimentos Operacionais Padrão para a área, para que haja uma eficácia em todos os níveis, não só na qualidade do atendimento, como também na aplicação de práticas de Biossegurança, uso adequado de materiais e instrumentais, e facilitar a integração de um novo integrante que venha a ocorrer. Esse é mais um ponto alto da Portaria 1748/2011, que é a capacitação inicial e continuada para todo o profissional de Saúde. Todos fazendo tudo igual dentro da mesma atividade, utilizando técnicas iguais e materiais iguais reduzem em muito os riscos de exposição.
Foi um longo trabalho, permeado de aprendizado e descobertas importantes, onde a participação de todos envolvidos nessa cadeia foi de fundamental importância.
Destaco que a participação ativa dos profissionais do SINSAUDE, enquanto Equipe de Odontologia, SESMT e do Sr. Pedro Tolentino, que viabilizou todo esse trabalho, foi decisivo para o sucesso das ações propostas nesse trabalho.
Lembrando ainda, que o patrocínio financeiro e logístico da empresa INNOVA, parceira do SINSAUDE e representada pela Sra. Silvana Biseto, foi fundamental e possibilitou as visitas e entrevistas técnicas que ocorreram durante o período em que esse trabalho foi desenvolvido.
VERA LÚCIA CANTALUPO
Técnica de Segurança do Trabalho
Pedagoga
Assessora Técnica da Confederação Nacional das Instituições Financeiras na Comissão Tripartite Permanente Nacional da NR 32